Em homenagem a João Ubaldo Ribeiro pela conquista do prêmio Camões, que ele achou merecido e eu também, lembro a vitória de “Viva o povo brasileiro”, seu romance mais importante, na eleição de melhor livro da ficção brasileira em 25 anos – de 1982 a 2007 – que o Todoprosa promoveu em abril do ano passado ouvindo escritores, críticos, editores e jornalistas da área.
Aqui, o resultado geral da enquete.
E aqui, uma modesta tentativa de entender o encanto duradouro desse romanção.
9 Comentários
Grande Ubaldo..prêmio merecido mesmo.”Viva o Povo ” é um monumento literário que reúne rigor e humor, pesquisa e invenção. Só por esse livro ele já merece inclusive o… Nobel.
Estou exagerando? Acho que não
pena que nos últimos anos João Ubaldo não tenha escritos romances mais ambiciosos. Nem precisava chegar perto de Viva o Povo. Um romance com o tamanho e a qualidade de Sargento Getúlio seria mais do que bom.
Também achei merecido.. embora esteja decepcionado com a coletividade dos escritores… o individualismo ainda consegue manter alguns focos de literatura brasileira.
O premio Camões quase sempre acerta. Desta vez ACERTOU mais uma vez!
O melhor de tudo é a reação do escritor: primeiro disse que merece, e que o prêmio não é “nada demais.” Depois, perguntado sobre o dinheiro que vai receber, disse que vai ser bom, pra complementar a aposentadoria. Quem conhece um pouco do baiano ( não estou falando de conhecer pessoalmente ) sabe que o figura não está fazendo tipo, ou como se diz na “gíria”, “marketing pessoal.” Aliás, vem a calhar a reação dele, nesses nossos tempos impregnados de ” tipos” e “marketing pessoal” Parafraseando outra figura parecida, ( O Daniel Galera), bom saber que tem gente que prefere ter uma vida, em vez de um estilo de vida…
Parece haver polêmica sobre a legitimidade do Prêmio Camões deste ano. Segundo li nos jornais, o juri havia decidido que seriam avaliados apenas livros de autores brasileiros e, por isso, a legitimidade do prêmio está sendo contestada por alguns autores portugueses. Não tive tempo para pesquisar mais sobre o assunto, mas tenho a impressão de que, se realmente for verdade que somente autores brasileiros foram avaliados (uma inexplicável delimitação de abrangência, já que o prêmio Camões seria, nos moldes do prêmio Cervantes, o supremo coroamento daqueles que dominam o idioma, qualquer que seja a nacionalidade), a vitória perderia muito do seu sabor.
João Ubaldo é um autor talentoso, que merece a honraria. É uma pena, se a notícia for verdadeira, que a homenagem vem na esteira de um inaceitável privilégio outorgado a autores brasileiros.
Alguém sabe mais detalhes?
Isso parece uma bobagem, Rafael. O Camões é instituído pelos governos de Brasil e Portugal e escritores das duas nacionalidades basicamente se revezam como premiados – com um africano de vez em quando para temperar. Como o Brasil não levava desde 2005, era de se imaginar que levasse agora. Prêmios são sempre políticos. Quando, em vez de livros lançados num determinado período, se voltam para obras inteiras, então… O que parece ter saído do script foi uma declaração pouco hábil de um jurado, nada mais. O resto foi o de sempre. Qualquer um que tentar usar isso para diminuir o brilho do prêmio de Ubaldo estará agindo de má-fé.
Sérgio,
Fui buscar mais detalhes sobre o assunto. A grita dos autores portugueses começou a ser entoada pelo Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Autores, um tal de José Jorge Letria, que disse não ser aceitável “esse regime de excepção” (com pê mudo).
Na Internet, li duas versões conflitantes sobre o fato. Numa delas, haveria um sistema de rodízio desde sempre, não havendo nenhuma excepcionalidade na exclusividade para autores brasileiros neste ano; na outra versão, tal rodízio jamais existiu e seria este o primeiro ano em que o critério foi empregado.
É possível que a origem da polêmica seja a declaração infeliz de algum jurado, mas na minha pesquisa nada descobri a respeito.
De qualquer forma, considero João Ubaldo merecedor da distinção. Para mim, ele e o Ariano Suassuna são os dois grandes prosados vivos no Brasil.
Prosadores, retifico.