O ano que está terminando foi feliz para quem ama livros propriamente ditos – de papel e tinta, cola e costura – e tem grandes buracos na estante que gostaria de preencher. O que significa dizer que também foi generoso com aqueles que tiverem disposição e fundos para investir num presentaço natalino que o personagem mencionado acima não esquecerá jamais. O grande acontecimento do fim do ano é o início do relançamento, pelo...
httpv://www.youtube.com/watch?v=h1DDndY0FLI Mmh, yes. Inspirada pelo famoso monólogo de Molly Bloom que encerra “Ulisses”, o romance de James Joyce, essa bela e hipnótica canção de Kate Bush (faixa-título do álbum The sensual world, de 1989) é forte candidata ao posto de realização mais alta da fusão de pop e literatura que é a razão de ser desta seção. Referências literárias nunca faltaram na obra personalíssima da...
“Ficção completa”, de Bruno Schulz: O escritor polonês (1892-1942) ficou marcado pela sombra de Franz Kafka, que como ele era um judeu europeu desenraizado. A ligação entre os dois foi estimulada pelo próprio Schulz, que chegou a assinar uma tradução de “O processo” que não fez, mas tem valor dúbio. A verdade é que sua literatura de estonteante originalidade não deve nada a ninguém. O principal indício da d...
A dar fé ao viajante inglês William Boyd Sennett, que em 1819 teria tido diante dos olhos as memórias posteriormente perdidas do então recém-falecido bispo Antônio Simão das Neves (e não vejo por que não lhe dar mais fé do que à arenga anticlericalista e factualmente vaga que no fim daquele século publicaria em São Paulo o anarquista Vicenzo Cucco, outra fonte habitualmente consultada pelos estudiosos da história de Simão...
Cheguei ao romance Damage (“Perdas e danos”), com o qual a irlandesa Josephine Hart debutou na literatura em 1991, por meio de sua adaptação cinematográfica. O filme dirigido por Louis Malle e estrelado por Jeremy Irons e Juliette Binoche me parece até hoje – tratei de revê-lo recentemente – uma obra rara em sua combinação de simplicidade narrativa com capacidade de cavucar o fundo do poço. É difícil tirar da cabeça c...
Curioso pela migração de gênero e público, comecei a ler “Morte súbita”, o primeiro “romance adulto” de J.K. Rowling, a criadora de Harry Potter. Pouco mais de meia hora depois tinha parado de ler “Morte súbita”, o primeiro “romance adulto” de J.K. Rowling, a criadora de Harry Potter. A leitura teve morte súbita – e vale registrar que eu tinha optado pelo original, The casual vacancy, o que inocenta do crime a t...
O blog vizinho “Veja Meus Livros” está recebendo até o próximo dia 9 inscrições para um concurso de microcontos no formato Twitter, em parceria com a editora Globo. Os vencedores receberão como prêmio uma pequena montanha de livros. O desafio é resumir, em até 140 caracteres, a saga de Sherazade, a contadora de histórias das “Mil e uma noites”. Tarefa dura: na verbosidade obrigatória da moça que noite após noite ent...
httpv://www.youtube.com/watch?v=PQuT-Xfyk3o&oref=http%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fresults%3Fsearch_query%3Dstoya%26oq%3Dstoya%26gs_l%3Dyoutube.3..0l10.3908.4696.0.5075.5.5.0.0.0.0.185.808.0j5.5.0…0.0…1ac.1.03FhMEe5akA&ytsession=00n_MXRMSWasxcYzoH-FyV8L2M1nl5pTmnR4Dp4JEeKovalu5xg38FrpoIowBnwBsSzKiRBphaTTC-SqB5gRMSX_-aP3WNu9OijbD2_F63IUdRdO_81yixYX6Wmk-vyuGXPQnvRGhOkzsllGJ1yo6wCc60LY9ddz4f51ihtq6acEqDXZGo5zwRbKEYc0kOLUbg...
Não, Roth não abandonou sua arte, não enterrou sua varinha como Próspero. Foi a arte que lavou suas mãos diante desse escritor irremediavelmente trivial e constrangedor. Tomando de empréstimo o título do primeiro livro Roth, a coletânea de contos ‘Adeus, Columbus’: Adeus, Philip! E, olhe, a porta da rua é a serventia da casa. O artigo publicado pelo crítico americano Lee Siegel no “Estadão” de domingo, chamando de “...
Quando Jonathan Franzen fez elogios efusivos a Chico Buarque e Bernardo Carvalho em sua passagem pela Flip deste ano, muita gente acreditou numa estratégia diplomática para ganhar a simpatia dos nativos. Tudo indica que não era isso ou não apenas isso. Franzen acaba de bradar ao mundo, em tom enfático, sua admiração pelos dois ficcionistas brasileiros. Um dos quarenta escritores ouvidos pelo jornal inglês “The Guardian” para...
Além de Jennifer Egan ter publicado uma obra-prima usando o formato dos 140 caracteres como tijolinho numa construção ambiciosa, concursos e festivais de micronarrativas no Twitter já houve vários – inclusive duas edições aqui no Todoprosa – mas desta vez a coisa é oficial. O próprio Twitter vai promover na semana que vem, de 28 de novembro a 2 de dezembro, um festival de ficção que tem o objetivo pouco modesto de “ampl...
É praticamente impossível aprimorar a lista de dez conselhos a jovens escritores que a escritora inglesa Zadie Smith (foto), autora de “Dentes brancos” e “Sobre a beleza” – e do recente NW, ainda inédito por aqui – escreveu para o “Guardian” em 2010 (via Brain Pickings). Não há um único item dedicado ao que escrever tem de mais essencial e misterioso, aquilo que levou Somerset Maugham a dizer: “Existem três regr...
E assim como o casamento entre Kafka e os pós-graduados parece ter certo grau de necessidade, o casamento entre Kafka e a internet tem o ar disfuncional e pesadelar de uma união arranjada entre duas partes que se ignoram. O próprio Kafka sentia uma repulsa visceral à vida doméstica a dois, desviando o olhar dos trajes de dormir de seus pais dobrados sobre a cama; mas quão pior do que isso será o que temos aqui, o aburguesamento d...
Mal havia assentado a notícia de que Philip Roth (foto) parou de escrever, o húngaro Imre Kertész anunciou que também estava pendurando as chuteiras. Isso acrescentou um prêmio Nobel a um eterno candidato ao prêmio Nobel na lista dos desistentes da literatura e criou um campo fértil para piadas – nervosas, porque o tema toca em angústias mais profundas do que gostaríamos de admitir – entre escritores das minhas relações. ...
Não há dúvida de que o leitor internacional é sempre um leitor inseguro e preocupado, como um histérico deitado num sofá. Quer dizer, não sei nada da língua em que esse conto chamado “Animais” foi escrito. E também não sei exatamente onde fica Porto Alegre – que é onde o conto de Michel Laub começa. O que eu digo é que isso faz um leitor ficar ansioso. Tenho que supor que fique no Brasil. E, no entanto, acho que é po...
Essa mania de matar o pai, inclusive como simples simbologia freudiana, me parece uma estupidez, a menos que o pai seja um delinquente. Em relação aos grandes do ‘boom’ não podemos sentir nada além de gratidão: foram eles que nos abriram as portas do mundo e dos leitores. Nos livraram do complexo de idiotas ou de subdesenvolvidos. Nos mostraram caminhos literários completamente novos, e não para seguirmos no mesmo rumo, mas p...
O que acontece quando uma boa escritora feminista como a inglesa Julie Burchill, ex-menina-prodígio do “New Musical Express”, ataca o estranho fenômeno editorial desencadeado pelo sucesso de “Cinquenta tons de cinza”? Aqui (em inglês), escrevendo no “Observer” sobre Bared to you – lançado no Brasil pela editora Paralela como “Toda sua” – de Sylvia Day, uma imitação descarada que também tem vendido feito pão q...