Em vez de duplos mortais carpados, tetrâmetros iâmbicos cataléticos? Exatamente. Embora quase não se fale nisso, entre 1912 e 1948 os Jogos Olímpicos distribuíram medalhas de ouro, prata e bronze para escritores (mais especificamente, poetas), além de músicos, arquitetos, pintores e escultores, por obras inéditas que tivessem o esporte como tema. Não que faça muita falta saber. O fato de o primeiro vencedor da medalha de ouro...
Resenhistas não deveriam ser máquinas de recomendar, mas nós acabamos por nos conformar com esse papel, em parte porque o espírito de solicitude comunitária do Twitter estimula isso. Nossa vantagem sobre os algoritmos da Amazon e da Barnes & Noble e sobre o amadorismo (parte dele bastante bom e útil) de sites como GoodReads é que nós somos profissionais com opiniões nuançadas, informadas. Somos pagos para ser céticos, at...
Nos anos 1970, a pauta literária nacional se refugiou na universidade. (…) Se criou ali de certa forma o ‘pior’ de dois mundos. Surgiu a figura do professor-escritor. Eu fui um. O discurso da universidade tem a pressuposição de verdade. A universidade é um lugar de organização do pensamento. A perspectiva de quem cria na literatura é substancialmente diferente. A verdade não interessa para a criação literária. A lig...
Nossa adorável, vulgar e humaníssima arte [o romance] está num de seus finais, se não estiver no fim. Mas isso não é motivo para não querer praticá-la, ou mesmo lê-la. De qualquer modo, como sacerdotes que já se esqueceram do sentido das preces que entoam, continuaremos por um bom tempo falando de livros e escrevendo livros, fingindo não notar, enquanto isso, que a igreja está vazia e os paroquianos foram embora para algum l...
Estou convencido de que os livros digitais são uma nova bolha tecnológica, e de que ela vai estourar nos próximos 18 meses. Eis a razão: a publicação digital é inextricavelmente ligada às estruturas do marketing nas redes sociais e ao mito de que a mídia social funciona para vender produtos. Não funciona, e só agora começamos a ter estatísticas verdadeiras sobre isso. Quando o marketing das redes sociais entrar em colapso, ...
httpv://www.youtube.com/watch?v=e6Iu29TNfkM&feature=youtube_gdata_player Trata-se de material educativo, o que costuma ser interpretado como uma espécie de eufemismo de “chato”. Por que será, então, que assisti com interesse a esse vídeo (em inglês) que pretende resumir e analisar sumariamente “O grande Gatsby”, obra-prima de F. Scott Fitzgerald e livro preferido de Luis Fernando Verissimo? A resposta si...
“O espírito da prosa – uma autobiografia literária”, de Cristovão Tezza (Record, 224 páginas, R$ 34,90), é um livro corajoso e único no cenário brasileiro: um longo ensaio em que um ficcionista de sucesso reflete sobre sua formação, sonda motivações ocultas, esmiúça referências, defende teoricamente suas escolhas no quadro histórico da prosa de ficção e, ao mesmo tempo, expõe as próprias dúvidas e pontos fracos...
Todo o romance é espetacular, uma das obras-primas do século 20, mas a cena abaixo – situada ao fim do primeiro terço de “Lolita” (1955), escrito diretamente em inglês pelo russo Vladimir Nabokov – ocupa posição de destaque. Em primeiro lugar por uma questão de arquitetura, como ponto de virada em que, pela ação quase inverossímil do “longo e cabeludo braço do Acaso”, a paixão proibida de Humbert Humbert, o narra...
– Imagine o futebol sem meritocracia. Imaginou? – Não sei se estou entendendo. – Um futebol sem meritocracia, ora. Sem hierarquia, sem mecanismos de aferição de valor. Imagine um ambiente em que não só o craque desapareceu como a própria ideia de que certos jogadores possam ser considerados craques é revoltante para a sensibilidade democrática de todos. Craque para quem, na opinião de quem? Com que autoridade divina algu...
Para encerrar o capítulo do II Concurso Todoprosa de Microcontos para Twitter, publico algumas histórias que mereceram menção honrosa e que ajudam a ilustrar a diversidade de estilos e efeitos abarcada pelos atuais praticantes do formato ultracurto. Carlos Seabra, por exemplo, consegue alçar um bom voo no terreno da fantasia em apenas 116 caracteres: Os semícaros eram um povo unialado, cada qual com uma única asa. Para voar, tinh...
Foi mais difícil escolher os vencedores desta vez. O número de narrativas ultracompactas inscritas foi o mesmo, pouco acima de 600. No entanto, desde a primeira versão do Concurso Todoprosa de Microcontos para Twitter, em 2010, é possível que o formato radicalmente sucinto tenha se alojado mais fundo na sensibilidade da nossa época, sei lá. O fato é que o trabalho de seleção foi mais difícil, o medo de cometer alguma injusti...
Aqui vai um joguinho divertido para bons leitores (e cinéfilos também): numa galeria de 36 personagens famosos da literatura, com limitação de tempo, em quantos casos você consegue identificar os autores? Como a escolha dos nomes que participam da brincadeira é decididamente mainstream, a maioria dos personagens já foi parar no cinema, o que pode facilitar a tarefa ou não. Quem, não sendo um bom leitor, presta atenção no nome...
Faltam 48 horas para o encerramento das inscrições no II Concurso Todoprosa de Microcontos para Twitter, às 13h desta sexta. As micronarrativas inscritas – limitadas ao número máximo de três por autor – já são 345. O resultado será divulgado aqui na próxima segunda-feira, dia 16. Se você está tomando conhecimento do concurso agora, acesse o regulamento aqui. E boa sorte. * Por falar em concurso: parabéns aos vinte escri...
Será que a cena do poeta gaúcho Fabricio Carpinejar recitando entre berros, sussurros e gargalhadas de vilão de filme B o poema “Confidência do itabirano”, de Carlos Drummond de Andrade, enquanto caminhava entre as cadeiras no auditório da Tenda dos Autores, ficará na história como o momento mais explosivo e transgressor da Flip 2012, um evento de resto bem comportado e até morno (leia o balanço do blog vizinho Veja Meus Li...
Por Raissa Pascoal Como já é tradição, a mesa de encerramento da 10ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) reuniu alguns dos autores convidados do evento para a leitura de seus livros favoritos. “Essa mesa celebra a razão de ser da festa: a literatura”, disse Miguel Conde, que apresentou a sessão Livro de Cabeceira, mediada pela criadora do evento, Liz Calder. Entre os escritores lidos, estavam o austrí...
Gary Shteyngart, americano nascido na Rússia, e Hanif Kureishi, inglês de ascendência paquistanesa, protagonizaram uma das mesas mais divertidas da história da Flip – mas nem por isso destituída de seriedade. Numa divisão um talvez grosseira – mas não muito – pode-se dizer que coube ao histriônico Shteyngart fazer o auditório gargalhar, com seu humor judaico autodepreciativo à la Woody Allen (com quem tem razoáveis seme...
O depoimento em vídeo de um poeta que conviveu com Carlos Drummond de Andrade e um poema inédito de outro poeta, mais jovem, que o chamou de “uma espécie de Buda” foram dois dos pontos de maior voltagem emocional de toda a Flip 2012. Ambos se deram em rápida sequência hoje à tarde, na mesa “Drummond – o poeta presente”. O depoimento em vídeo foi de Armando Freitas Filho, autor de “Raro mar”. O poema inédito, de Car...