É muito esclarecedor este artigo (em inglês) publicado na “Salon.com” por Gerald Howard, sob o título “Eu sei por que Bret Easton Ellis odeia David Foster Wallace”. Howard editou os dois autores americanos quando jovens, admira ambos e acredita que eles sejam os mais brilhantes representantes de dois lados antitéticos da mesma geração – com DFW na extremidade que acabaria por se provar culturalmente vitoriosa. Mesmo assi...
httpv://www.youtube.com/watch?v=wOrhpRtEXH8&feature=related O Pop Literário de Sexta traz dois vídeos ligados à novela “A metamorfose”, obra-prima de Franz Kafka que, escrita em 1912 (e publicada três anos depois), está completando cem anos sem dar o menor sinal de que um dia se verá transformada numa espécie monstruosa e embolorada de literatura de época. Acima, a íntegra do bom média-metragem livremente inspirado no ...
Se existe um lado bom no neopuritanismo do Facebook, ele acaba de ser encontrado. O tom de falsa seriedade com que o editor de cartuns da revista “New Yorker”, Robert Mankoff, expôs no site da revista o ridículo de quem se escandaliza com mamilos de nanquim numa representação cartunesca de Adão e Eva produziu uma pequena obra-prima do humor. Muito melhor, aliás, do que o cartum da discórdia, que não é ruim. O post se chama ...
Esta é a segunda e última parte da entrevista que fiz com o ex-escritor Silvério Sombra, que há sete anos abandonou as lides literárias para criar galinhas num pequeno sítio chamado Itaguaí. A primeira parte pode ser lida aqui. A mulher feia que a juventude embeleza é uma metáfora da sua própria obra? Ou da literatura em geral? – (risos) É a metáfora de uma metáfora. Uma metáfora para acabar com todas as metáforas. Tudo...
A inspiração do artista e poeta austríaco Anatol Knotek, que pinta retratos – como o de Herman Hesse, à esquerda – com palavras manuscritas em vez de traços disputou uma vaga no Pop de Sexta com a suprema gratuidade de uma coleção online de biquínis que se parecem com capas de livros – como o da direita. Deu empate. * Embora pop à beça e bom mesmo seja este mapa da Via Láctea com design inspirado no do metrô londrino. ...
Encontrei o ex-escritor Silvério Sombra em seu sítio, que ele batizou de Itaguaí por motivos que veremos adiante, embora não se situe na cidade fluminense. O sigilo sobre a localização da pequena propriedade rural de Sombra é apenas uma das cláusulas restritivas que ele impôs como condição para conceder sua primeira entrevista desde que, há sete anos, abandonou tanto os círculos literários em que tinha atuação frenética...
RASCUNHO: Como você avalia a entrada do Paulo Coelho na Academia Brasileira de Letras? CARLOS HEITOR CONY: Tendo uma vaga, qualquer um pode entrar. O Paulo Coelho namorava a Academia havia bastante tempo. É uma figura polêmica, sua literatura é muito questionada. Mas há uma coisa que não se pode negar: ele é um homem de letras. Ele escreve letras. Escreveu letras para o Raul Seixas. Nunca li nada dele, realmente. Mas ele tem um s...
Em artigo no “New York Times” (em inglês), adaptado do prefácio que escreveu para a edição comemorativa do livro no Reino Unido, Martin Amis tenta entender por que o romance “Laranja mecânica”, de Anthony Burgess, ainda está vivo (certamente mais do que o filme homônimo de Stanley Kubrick) meio século após seu lançamento. Sua aposta é que a chama que não se apaga reside na improvável paixão extremada de Alex, o soc...
Porque toda crítica é baseada nesta equação: CONHECIMENTO + GOSTO = JUÍZO SIGNIFICATIVO. A palavra-chave aqui é “significativo”. Pessoas que reagem fortemente a uma obra – a maioria de nós o faz – mas não têm uma erudição mais ampla que lastreie essa opinião não são críticos. (É por isso que grande parte das resenhas feitas online por leitores não constituem propriamente crítica.) Tampouco são crítico...
Esse artigo (em inglês) de J. Robert Lennon na revista eletrônica Salon.com traz boas – e divertidas – reflexões sobre a ética da resenha literária negativa. Qual é o limite entre descer o malho com desassombro em livros que o resenhista julga merecedores de malho e aquele espetáculo sádico de espinafração em que o foco é transferido dos problemas da obra para a verve exibicionista do próprio resenhista? O autor parte do...
Hoje o Pop Literário de Sexta abre alas para o Literary Jukebox, simpático projeto lançado este mês pela jornalista cultural Maria Popova, do blog Brain Pickings. Trata-se de uma página que traz uma citação literária por dia – muitas vezes de ficcionistas, mas nem sempre – e a cada uma atribui uma trilha sonora pop moderninha que, para Popova, dialoga com o tema. O charme da coisa é que os casamentos de texto e música nunc...
Aproveito o centenário de Nelson Rodrigues, que se comemora amanhã, para reconhecer publicamente uma dívida pessoal e dar uma dica: talvez não haja lição mais importante que os escritores brasileiros do século 21 possam tirar da obra de um dos maiores escritores brasileiros do século 20 do que o difícil aprendizado do diálogo. Falo de uma questão de forma. Isso não significa minimizar o famoso conteúdo rodriguiano, esse imp...
O Writer’s Digest lançou a pergunta acima (em inglês) a seus leitores em fevereiro. Algumas das respostas são boas, mas, pensando em qual seria a minha, descobri que a única honesta é: depende do momento. Nesta fase em que estou em luta corporal com um novo romance – apanhando mais do que batendo – o conselho que resolvi imprimir em corpo 72 para colar na parede em frente à mesa de trabalho, de autoria de Neil Gaiman (fo...
É possível fazer literatura de qualidade no Twitter? Essa pergunta, que tem andado no ar há alguns anos, não teve até agora (terá um dia?) melhor resposta do que a que a escritora americana Jennifer Egan – autora do notável “A visita cruel do tempo”, resenhado aqui – deu em maio deste ano ao publicar no perfil da revista “The New Yorker” uma história de espionagem em forma de flood de tweets chamada Black box. Quem a...
Quem vê televisão aberta já deve ter esbarrado com o filmete em que Elisa Lucinda, poeta e declamadora, fala da importância dos livros em sua infância e adolescência. Em torno do bordão “Leia mais, seja mais”, está no ar (mais) uma campanha de incentivo à leitura promovida pelo Ministério da Cultura, com investimentos, este ano, de R$ 373 milhões – leia mais aqui. Sempre fico meio triste diante de iniciativas do gênero...
O narrador do romance sou eu. Meu nome será omitido, mas não minha profissão, esta sim importante: sou psicanalista praticante, de consultório na praça há mais de vinte anos. Bem de vida, sim, mas não propriamente rico como alguns colegas. Fui mais escrupuloso, quem sabe; menos esperto sem dúvida. Construí uma carreira sólida e plana, mantive-me ao largo da politicagem da profissão, do assédio da imprensa, das tentações da...
No centenário de Jorge Amado, comemorado hoje, a digestão do legado do escritor baiano ainda está longe de se completar. De um lado, sua obra de inédita popularidade sofreu uma espécie de canonização, com muito de kitsch como qualquer canonização. Basta ver o Bataclan ridiculamente luxuoso da nova adaptação de “Gabriela” na TV Globo: faz o Moulin Rouge parecer um bordel de província, como se as prostitutas de Ilhéus na ...