O poeta Antonio Cícero foi responsável pelos melhores momentos da mesa de abertura da Flip, a primeira das três previstas para homenagear Carlos Drummond de Andrade, encerrada agora há pouco. Ao fazer um inspirado exercício de close reading, isto é, de leitura detida, verso a verso, do poema “A flor e a náusea”, terminou por se aproximar mais – e ao público – do poeta mineiro do que o crítico Silviano Santiago conseguiu...
O homenageado – demorou – é Carlos Drummond de Andrade, mas a décima edição da Festa Literária Internacional de Paraty, que começa hoje à noite, promete ser dominada por outro tímido famoso: o escritor catalão Enrique Vila-Matas, que está no Brasil lançando seu novo romance, “Ar de Dylan”, topou na última hora dobrar seu tempo de exposição no evento para suprir a lacuna deixada pela desistência do francês...
Não somos exatamente da mesma geração: a Festa Literária Internacional de Paraty está completando dez anos e o Todoprosa acaba de fazer seis. Antes de criar o blog, porém, participei ativamente da Flip 2004 como mediador de duas mesas – a dos contistas brasileiros Sérgio Sant’Anna e Luiz Vilela e a dos romancistas anglófonos Jeffrey Eugenides, americano, e Jonathan Coe, inglês. Feitas as contas, só estive ausente em duas e...
No auditório da Biblioteca Nacional, no centro do Rio, quarta-feira à noite, predominavam escritores, editores, tradutores e jornalistas culturais. Compondo a mesa estavam a inglesa Amy Webster, representante da Feira do Livro de Londres, e o escritor João Paulo Cuenca, além de mim. A propósito do lançamento carioca da revista literária londrina “Litro”, que em seu número 114, com edição da inglesa Sophie Lewis, reuniu aut...
Em 2010, quando organizei aqui um concurso de micronarrativas em formato Twitter, com 140 toques no máximo, aberto a todos os leitores, prometi uma segunda edição da brincadeira. Chegou a hora de cumprir a promessa. Terá amadurecido nesses quase dois anos o potencial literário do Twitter? A primeira iniciativa atraiu mais de 600 inscritos e teve os seguintes vencedores: A caixa de emails da mulher aberta diante de si. Dali mesmo gr...
httpv://www.youtube.com/watch?v=-BSUmLAQG-4&feature=relmfu O velho truque cômico – que alguns chamariam de cretino, mas isso é parte da graça – de tomar a linguagem figurada por literal garante a diversão desse vídeo, mais um da turma da revista multimídia americana Electric Literature, que compartilha com o Pop Literário de Sexta a certeza de que a literatura, como a música clássica, pode, deve e precisa urgentemente s...
A escritora americana Alice Walker (foto) vetou a publicação de seu best-seller “A cor púrpura” em Israel, em protesto contra o que chamou, numa carta à editora Yediot, de “apartheid e perseguição do povo palestino”. Acrescentou que “gostaria muito que meu livro fosse lido pelo povo de seu país, especialmente pelos jovens e corajosos ativistas israelenses (judeus e palestinos) que lutam por justiça e paz e com os quais...
O fato de escrever sobre literatura neste blog há seis anos, sem interrupções, me leva a ser convidado com frequência para tratar de um assunto que deve ter grande apelo para o público interessado em literatura, a julgar pela vaga cativa que os curadores lhe destinam na programação de feiras e congressos: o da convergência entre o velho mundo das letras e o novo mundo digital. Sempre que me perguntam em tais ocasiões se a inter...
O nono capítulo de “Vidas secas” (1938), de Graciliano Ramos, em que o narrador descreve a morte da cachorra Baleia, é provavelmente o mais lido e lembrado em toda a obra do escritor alagoano. O crítico Álvaro Lins afirmou que ele “se acha revestido de uma humanidade talvez maior que a dos seres humanos”, querendo dizer que o romancista – avaliado por ele em seus livros anteriores como sarcástico e revoltado demais, e que...
Meu pai ficava deitado no assoalho, todo nu, sarapintado de manchas negras de totem, riscado pelas linhas das costelas, pelo desenho fantástico da anatomia que transparecia, ficava de quatro, possuído pelo fascínio da aversão que o puxava para dentro de seus emaranhados caminhos. Meu pai se mexia com movimentos complicados de numerosos membros, num estranho ritual no qual reconheci, apavorado, uma imitação do cerimonial da barata....
Incentivo à leitura e divulgação da literatura brasileira contemporânea parecem temas áridos, para não dizer inglórios? Que tal convocar os profissionais? A agência de publicidade Lew’LaraTBWA acaba de inventar uma utilidade cultural surpreendente para o espaço daquele “texto legal” que muitas empresas colam no pé dos e-mails de seus funcionários, em geral algo chato na seguinte linha: “Esta mensagem e seus arquivos a...
httpv://www.youtube.com/watch?v=av8k5e07Qtw O Pop Literário de Sexta homenageia Ariano Suassuna, que o Senado apontou na semana passada como candidato brasileiro ao Prêmio Nobel de 2012, e traz a cena do julgamento post-mortem de João Grilo (Matheus Nachtergaele) na excelente adaptação da peça “O Auto da Compadecida” dirigida em 1999 para a TV por Guel Arraes. Bom fim de semana a todos....
O crítico inglês Terry Eagleton (foto) acaba de dar uma interessante entrevista para a revista acadêmica “The Oxonian Review” (em inglês, aqui). Nela apresenta uma visão extremamente negativa do atual estado dos estudos literários acadêmicos e dá um conselho seco aos “jovens críticos”: “Não é um bom momento para estar nas universidades”. Vindo de um nome fundamental da teoria literária britânica, o desabafo tem ...
Conhece essas ilustrações de 1919, do inglês Harry Clarke, para os contos de mistério de Edgar Allan Poe? Eu não conhecia. Coisa finíssima. * Hoje, dez da manhã, quando se abriram os portões virtuais, tudo correu com suavidade na compra de ingressos para a Flip no site Tickets for fun. Agora, passando do meio-dia, as entradas para a Tenda dos Autores estão esgotadas na maioria das mesas, o que era previsível, mas ainda não ou...
O fascinante, inteligentíssimo, patético professor universitário Moses Herzog, protagonista de “Herzog”, romance lançado em 1964 por Saul Bellow (foto, 1915-2005), foi descrito por Philip Roth como “intenso porém passivo, reflexivo porém impulsivo, equilibrado porém louco, emotivo, complicado, um perito em matéria de dor, (…) um palhaço quando se torna um vingador indignado, um bobo em quem o ódio gera comédia, um...
Quando conheci Maria Alice, era o auge da guerra poético-universitária dos anos 90, o que queria dizer que éramos todos grandes escritores, jovens o bastante para isso. Eu andava fascinado por e.e. cummings e escrevia coisas assim: cooktop scoop ;stop entope poo pi(l)l : há lá pupila pop Era absolutamente imperdoável, mas Maria Alice lia tudo com suas sobrancelhas grossas, seu silêncio enigmático, e depois se entregava na cama c...
Como sabe quem costuma aparecer por aqui, elas são um fetiche assumido do Todoprosa: aí vai uma inusitada coleção de fotos eróticas de priscas eras (mais inocentes que a novela das nove, mas vale o alerta) que juntam mulheres e… máquinas de escrever! * É um belo trabalho jornalístico esta entrevista de Rinaldo Gama, Ubiratan Brasil e Maria Fernanda Rodrigues com o editor Sérgio Machado, da Record, que saiu no último Sab...