Coube aos acadêmicos de literatura João Cezar de Castro Rocha e Eduardo Sterzi a ingrata missão de entreter o público da Flip no primeiro horário deste domingo, a partir das 10h, quando a maioria ainda dorme em suas pousadas ou se recupera da ressaca de sábado à noite. Para tornar a missão mais difícil, o tema de sua mesa, chamada “Pensamento canibal”, era uma questão teórica – o que o homenageado deste ano, Oswald de A...
Na mesa mais divertida da Flip, como estava previsto, João Ubaldo Ribeiro, 70 anos, contou histórias, cunhou frases de efeito, fez piadas consigo mesmo e com o entrevistador – seu amigo e também escritor Rodrigo Lacerda – e, de forma surpreendente, ousou falar mal do intocável Guimarães Rosa, que já foi apontado como influenciador de “Sargento Getúlio”, um de seus livros mais conhecidos. Em compensação, furou também o ...
“O cinema não é uma arte superior aos quadrinhos”, disse Joe Sacco, astro solo da mesa iniciada ao meio-dia, que terminou por ser tão informativa quanto agradável. Onde se lê cinema, pode-se ler também literatura, jornalismo e fotografia, linguagens com as quais ele dialoga em sua importante, ambiciosa e original obra de HQ. Nascido em Malta em 1960 e criado nos Estados Unidos, Sacco é hoje o maior nome do jornalismo em quadr...
Mal-humorado e repetidamente descortês com seu entrevistador, o cineasta francês Claude Lanzmann, 85 anos, autor do referencial documentário “Shoah”, disse na última mesa de hoje que Steven Spielberg brinca em “A lista de Schindler” com algo que não admite brincadeiras. “O que significa representar a morte de milhões de pessoas? É uma questão muito complicada. Não existe representação possível, alguma coisa proíbe...
Ignacio de Loyola Brandão e Contardo Calligaris declararam solidariedade ao escritor italiano Antonio Tabucchi, que deveria ter sido a principal atração da mesa de hoje às 17h15, mas cancelou sua participação em protesto contra a posição do Supremo Tribunal Federal – e do governo brasileiro – no caso Cesare Battisti. O psicanalista e cronista Calligaris, italiano como Tabucchi, fez questão de dizer que sua situaçã...
A Flip teve finalmente seu momento de emoção explítica na mesa de hoje ao meio-dia, chamada “Pontos de fuga”, que reuniu o português Valter Hugo Mãe e a argentina Pola Oloixarac. Surpreendentemente, os papeis tradicionais se inverteram: Pola, que antes mesmo de pisar em Paraty já carregava o título (merecidíssimo) de musa da Flip, foi o lado racional da conversa, e coube a Mãe, que chegou às lágrimas ao ler um simpático ...
O neurocientista Miguel Nicolelis (foto) e o professor de filosofia da religião Luiz Felipe Pondé protagonizaram hoje à noite, numa Tenda dos Autores lotada, uma das mesas mais cabeçudas da história da Flip, chamada “O humano além do humano”, com mediação da jornalista Laura Greenhalgh. Como água e azeite, não se misturaram, apesar dos esforços da mediadora, nem poderiam: o triunfalismo científico (não sem razão) de Ni...
Na mesa “Marco zero modernista”, diante de um auditório com cerca de 80% de ocupação, hoje à tarde, os pesquisadores acadêmicos Marcia Camargos e Gonzalo Aguilar deram continuidade às homenagens a Oswald de Andrade, iniciadas ontem à noite na mesa de abertura. Não era fácil a tarefa de trazer novos ingredientes ao banquete antropofágico proposto pela Flip, após o prato principal representado pelo venerável Antonio Candid...
Foi bem recebido em Paraty o anúncio do novo programa de apoio à tradução de autores brasileiros no exterior, feito no fim da tarde de hoje, na Casa da Cultura pela ministra da Cultura, Ana de Hollanda. Ele prevê a concessão de bolsas de tradução no valor de 7,6 milhões de dólares até 2020 – do total, 635 mil dólares ja este ano, o triplo do que vinha sendo investido. Falta fazer muita coisa, mas Frankfurt 2013 começa a g...
Na morna mesa de abertura da Flip 2011, hoje à noite, o crítico literário e ensaísta Antonio Candido, 93 anos, não foi nem crítico nem ensaísta ao falar de Oswald de Andrade, o escritor homenageado da festa este ano. Foi memorialista, contando casos para ilustrar a personalidade marcante do poeta e provocador cultural modernista. “Hoje eu sou um sobrevivente”, disse. “Só eu posso falar como era Oswald de Andrade.” Coube ...
Em sua nona edição, que começa hoje à noite com uma palestra do crítico Antonio Candido e sob o signo da “antropofagia” de Oswald de Andrade, o homenageado do ano, a Festa Literária Internacional de Paraty dá sinais de amadurecimento como grande evento do mercado literário brasileiro, inspirador de uma série de festas espalhadas pelo país – como mostrou a boa reportagem de Beatriz Souza aqui em VEJA.COM. Essa pos...
Além de ser o crítico musical mais importante de sua geração e autor de livros de ficção, entre eles “Black music” (Objetiva), o jornalista carioca Arthur Dapieve tem um papel curioso na Flip: é um veterano mediador de debates que acabou por se especializar em entrevistados considerados difíceis. Em 2007, o mais-que-irônico escritor inglês Will Self propôs no palco que os dois abandonassem suas mulheres e fossem juntos de...
Em 1927, num debate transmitido pelo rádio, perguntaram a Virginia Woolf se não estavam sendo escritos e publicados livros demais – sim, já naquele tempo. A resposta da autora de “Orlando” foi espirituosa: “Por que não publicar a primeira edição em algum material perecível que se desfaça num montinho de pó perfeitamente asseado no prazo de seis meses? Se uma segunda edição fosse necessária, esta sim poderia ser impre...
Antes do tsunami digital, o poder pertencia aos detentores da informação. Agora, com a informação mais desvalorizada que cruzados e cruzeiros nos anos Sarney e Collor, a moeda em alta será cada vez mais a capacidade de concentração – aquela exigida por exemplo de quem mergulha na primeira página de um livro para emergir na última, sem parar dez mil vezes no meio do caminho para conferir o e-mail ou se divertir com vídeos vir...
Primo Levi publicou “É isto um homem?” em 1947. Vendeu 150 exemplares. Depois da recusa de 27 editores, “Molloy”, de Samuel Beckett, foi publicado pelas Éditions de Minuit e vendeu 694 exemplares. “Malone morre” e “O inominável”, lançados logo em seguida, venderam 241 e 476 exemplares, respectivamente. “Cidade de vidro”, parte da Trilogia de Nova York, de Paul Auster, foi recusado por 17 editores. “A amante de ...
A história do escritor independente – isto é, sem editora – John Locke, publicada esta semana pelo “Los Angeles Times” (em inglês, acesso gratuito), é um interessante caso de sucesso no mundo dos e-books. Um mundo que, se no Brasil ainda cabe numa xícara, nos EUA já desenha uma paisagem de contornos vastos e cada vez menos nebulosos. Vale a pena conhecer o caso porque, mais cedo ou mais tarde, suas lições poderão ser ap...
O “novo projeto” de J.K. Rowling não é mais um livro protagonizado por Harry Potter, diz a versão oficial, mas isso não impede a autora de continuar fazendo mágica. Venha o que vier, uma coisa parece certa: será mais uma aula sobre como usar os recursos do mundo digital para manter vivo e vendável um mundo ficcional. Num momento em que tanto se fala de “literatura expandida”, convém prestar atenção. O s...