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Que cena! A megera indomada de Pedro Nava
Antologia / 28/02/2015

Em 1972, às vésperas de completar 70 anos, o ilustre médico mineiro Pedro Nava, radicado no Rio de Janeiro, publicou “Baú de ossos”, o primeiro volume de suas memórias. O livro vinha com um prefácio luxuoso do amigo Carlos Drummond de Andrade, que o declarava “digno de figurar entre o que de melhor produziu a memorialística em língua portuguesa”. As palavras do poeta não faziam favor algum ao trabalho de Nava, que encon...

Conselhos literários, conselhos de vida: dois decálogos
Vida literária / 21/02/2015

Esbarrei dia desses numa lista de dez conselhos – aqui, em espanhol – do romancista americano Richard Ford (foto) a jovens escritores e fiquei matutando sobre esse subgênero das dicas sobre o fazer literário, que sempre mereceu atenção do Todoprosa em seus quase nove anos de história. Embora sejam discutíveis em princípio, claro, simplesmente por serem conselhos, os de Ford têm lá sua graça. O que neles mais chamou minha a...

Fechando o desfile: mais cinco histórias de carnaval
Antologia / 14/02/2015

Sábado passado publiquei aqui a Antologia online de carnaval: edição revista e ampliada, com oito contos brasileiros de tema carnavalesco. Nunca tive a pretensão de esgotar o assunto com aquelas sugestões de leitura, evidentemente. Mesmo assim, a resposta de leitores e amigos, tanto na caixa de comentários quanto em contatos pessoais, me convenceu de que o desfile não ficaria completo sem uma última ala. Os cinco contos abaixo a...

Antologia online de carnaval: edição revista e ampliada
Antologia / 07/02/2015

O casamento de literatura e carnaval dá samba? Se dá! Dos oito contos listados abaixo – todos disponíveis para leitura imediata na rede, sem a necessidade de baixar arquivos –, acredito que pelo menos a maioria tenha presença obrigatória em qualquer antologia que se organize sobre o tema. Esta coleção é a versão revista e aprimorada de uma lista que publiquei aqui no blog no carnaval de 2011. Naquele ano, lamentei que não ...

‘Remissão da pena’: Modiano e o silêncio da história
Resenha / 31/01/2015

A memória é a matéria-prima do escritor francês Patrick Modiano, agraciado em outubro do ano passado com o prêmio Nobel de literatura. Isso pode sugerir um parentesco com Marcel Proust, o maior nome da literatura de seu país no século XX, autor dos sete volumes do caudaloso “Em busca do tempo perdido”. Mas é enganosa a semelhança. Enquanto Proust se dedica à recriação da vida mundana nos círculos aristocráticos frances...

Merchandising literário, uma modesta proposta
Antologia , Sobrescritos / 24/01/2015

– Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade. Mas só comecei a acertar mesmo quando troquei o velho trabuco por esta Taurus aqui, arma de grande maravilha. O senhor espie. Hem? Hem? * Até hoje permanece certa confusão em torno da morte de Quincas Berro Dágua. Dúvidas p...

1975: o ano em que a literatura explodiu

Nada a ver com saudosismo. Eu mal entrava na adolescência, e os livros que lia na época eram bem diferentes dos que vou citar aqui. Apenas aconteceu que, intrigado por uma coincidência flagrada casualmente, comecei a puxar um fio na estante e acabei com uma pilha de evidências de que a safra de 1975 foi gloriosa para a literatura brasileira – a última de nossas safras gloriosas, como se depois disso...

A lição de Ishiguro: quanto menos vida real, melhor
Vida literária / 10/01/2015

Entre os temas sobre os quais os escritores são chamados a responder com frequência, o da “rotina de trabalho” deve estar no topo da lista ou bem perto dele. São muitas as perguntas que cabem nessa categoria. Você escreve todos os dias? Tem uma meta de produção? Um número fixo de horas? Manhã, tarde ou noite? Observa algum ritual, alguma superstição? Desconecta-se da internet para escrever? Desliga o celular? Sim, o intere...

Um ano em cinco tempos
Os mais lidos de 2014 / 03/01/2015

Machado: ‘Reescrevam-me à vontade, mas…’ Reescrevam-me à vontade, caros compatriotas; cancelem palavras raras e chistes eruditos; amputem postilhões de Éolo, hidras de Lerna e asas de Ícaro; aplainem sem piedade as ordens inversas, as ousadias sintáticas, todas as cousas grandes ou miúdas. Depois de certa adaptação de Dom Casmurro para aquilo a que chamam TV, e que aqui captamos na parabólica, creio poder afirmar que...

Um ano de grandes despedidas
Os mais lidos de 2014 / 27/12/2014

Gabriel García Márquez “Cem anos de solidão” é um monumento cravado na história da literatura, ponto. Como os três ou quatro principais livros que o escritor colombiano publicou depois dele mantêm o sarrafo lá no alto, o solo sob seus pés parece firme. A reputação que falta fixar é a do homem público, a do “político”, papel que o ex-menino pobre e franzino de Aracataca passou a representar de modo praticamente prof...

Sobre línguas e catedrais: uma conversa com Amós Oz
Vida literária / 20/12/2014

“Não sou chauvinista com meu país, mas sou chauvinista com a língua hebraica.” Estou conversando com o escritor israelense Amós Oz num canto tranquilo de um dos amplos espaços vazios do segundo andar do aristocrático hotel Copacabana Palace. Depois de muitas perguntas sobre literatura e política (que renderam essa entrevista), o papo desagua com naturalidade na língua, como se fosse um rio que corresse para o mar. Conversamo...

Por que Sammy Davis Jr. não está no ‘Drible’
Vida literária / 13/12/2014

O Grande Prêmio Portugal Telecom conferido esta semana a meu romance “O drible” me deu vontade de compartilhar com os leitores, além da alegria por esse reconhecimento, algum tipo de presente que expressasse minha gratidão pelo carinho com que o livro foi recebido desde seu lançamento, em setembro do ano passado. Acabei indo buscar no almoxarifado aqui do computador uma cena que excluí da edição final e que, com um pouco de s...

Soy latino-americano – e como me engano!
Pelo mundo , Vida literária / 06/12/2014

Leu-se no jornalão mexicano “El Excelsior” que a morte do comediante Roberto Bolaños deixou multidões de luto “em toda a América Latina, no Brasil e na Espanha”. Foi o adido cultural brasileiro no México, Gustavo Pacheco, quem me chamou a atenção para o detalhe, daquele tipo em que o diabo gosta de morar: pela lógica do jornal, que espelha uma percepção bastante comum, nosso país não está contido no ...

Até breve!
Pelo mundo / 29/11/2014

Meus blogs deixarão de ser atualizados nos próximos dias, quando estarei no México para lançar a tradução de meu romance “O drible” (El regate) e participar da Feira do Livro de Guadalajara. Volto ao Todoprosa no dia 6 de dezembro e ao Sobre Palavras no dia seguinte....

A piada do Bad Sex Award perdeu a graça
Vida literária / 15/11/2014

O Bad Sex Award é um “prêmio literário” gozador criado pela revista inglesa “Literary Review” para eleger a pior cena de sexo do ano. O resultado de sua vigésima segunda edição (não que o mundo prestasse atenção nele em seus primeiros anos, antes do advento da chamada blogosfera) será anunciado na primeira semana de dezembro. A lista dos dez finalistas já pode ser consultada neste link do “Guardian” – que permit...

Sobre a precisão
Vida literária / 08/11/2014

Lendo um texto literário, tento decifrar por que ele me agrada tanto e chego à ideia de precisão vocabular. Será isso? Não, claro que nunca é uma coisa só, mas será isso em primeiro lugar – a precisão na escolha das palavras? O fato de as palavras vestirem as ideias como uma malha justa, roupa de mergulhador, segunda pele através da qual a ideia exibe suas formas com perfeição, quase como se já não fosse a ideia de uma c...

Que cena! O passeio de carruagem de ‘Madame Bovary’
Destaque , Que cena! / 01/11/2014

Se fizerem um concurso para eleger a cena de sexo mais famosa da história da literatura, esta será, no mínimo, uma das finalistas. Se a ideia for escolher a cena de sexo mais escandalosa, também. O curioso é que o máximo de nudez que existe na “cena da carruagem” do romance “Madame Bovary” (1857), de Gustave Flaubert, é a de uma mão sem luva que desliza a certa altura – “no meio do dia, em pleno campo” – sob a co...