Clique para visitar a página do escritor.
O bloqueio (e o bloquinho) do escritor
Vida literária / 25/10/2014

A ideia de “bloqueio de escritor” pode ter surgido junto com a de inspiração, irmãs gêmeas e inimigas geradas na barriga do Romantismo: ambas atacam quando bem entendem, sem que o pobre escritor possa fazer nada para controlá-las. A tese é exposta – não com essas palavras – por Joan Acocella, crítica da revista “New Yorker”, num alentado ensaio que estará no próximo número da revista “serrote”, semana que vem,...

Em defesa da trama: Vonnegut e uma freira em apuros
Vida literária / 18/10/2014

Na entrevista que Kurt Vonnegut (1922-2007) deu à “Paris Review”, lida há muitos anos, há um trecho que nunca me saiu da cabeça. Nele o escritor americano, autor de “Matadouro 5”, faz com a verve que lhe era característica uma defesa da boa e velha contação de histórias: Garanto a você que nenhum esquema narrativo moderno, nem mesmo a ausência de enredo, dará ao leitor satisfação genuína, a menos que uma daquelas t...

Contra Kafka
Vida literária / 11/10/2014

Um artigo (em inglês) publicado pouco mais de um ano atrás pelo ensaísta americano Joseph Epstein na revista The Atlantic, lido dia desses com atraso, me fez pensar nas tensas, sutis relações entre crítica literária e literatura – e por extensão entre crítica e qualquer arte que seja seu objeto. O título é provocante, para não dizer sensacionalista: “Franz Kafka é superestimado?”. Uma pergunta feita para pegar o leito...

ATÉ BREVE
Posts / 27/09/2014

Estou de férias. O Todoprosa voltará a ser atualizado no dia 11 de outubro. Um abraço e até lá!...

Poe e a filosofia da edição
Vida literária / 20/09/2014

Num debate na Biblioteca de São Paulo com a presença de outros finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura, sábado passado, um rapaz na audiência nos perguntou – a Adriana Lisboa, Michel Laub e Flavio Cafiero, além de mim – o que pensávamos do “método” de escrita defendido por Edgar Allan Poe em seu famoso ensaio “A filosofia da composição”. Foi um prazer inesperado ver surgir numa conversa literária de hoje, e ...

Perda e recuperação de Cortázar
Vida literária / 13/09/2014

Deixei passar em branco de propósito o centenário de Julio Cortázar, dia 26 de agosto. Se tenho a esquisitice (admito que seja) de não gostar muito de efemérides, que me parecem pretextos meio preguiçosos para falar da obra de qualquer artista, no caso do escritor argentino um motivo especial me levou a não pular no bonde da comemoração coletiva. Cortázar foi importante demais na minha história de leitor e, por extensão, de ...

Por que o Google Ads é coisa de psicopata
Vida literária / 06/09/2014

“O psicopata americano”, o romance mais conhecido do escritor americano Bret Easton Ellis, é um livro detestável na opinião de David Foster Wallace, com a qual concordo. Mas é um livro detestável que, de uma forma que seria até desonesto não considerar brilhante, conseguiu ficar na história como o melhor retrato de uma época e uma cultura detestáveis – o yuppismo dos anos 1980. A posição referencial que American psycho...

‘O fim está próximo!’, disse o profeta antes de morrer
Vida literária / 30/08/2014

Leio em minha tela, no espaço de alguns dias, uma entrevista de Philip Roth em que o escritor americano repete sua ladainha de que a cultura literária chegará ao fim em poucos anos, assassinada pela cultura digital e pelo fascínio que as novas gerações sentem por engenhocas eletrônicas; um artigo da Salon.com em que os escritores Josh Weil e Mike Harvkey refletem com humor sobre a diferença entre o tratamento de astros do rock q...

Da palavra à palavra inexistente
Vida literária / 23/08/2014

“Da cor à cor inexistente” é o nome do extraordinário livro sobre teoria das cores lançado em 1977 pelo artista plástico e pesquisador mineiro Israel Pedrosa (foto), hoje com 88 anos. Comprei-o em 1983, quando, levado por uma namorada de inclinações artísticas eclético-renascentistas, fiz um breve curso dado no Rio pelo autor sobre suas experiências fascinantes na fronteira entre a física e a arte. Aprendi então os rudim...

Escrever bem é ter o que dizer. E vice-versa
Vida literária / 16/08/2014

“Fulano escreve bem, mas não tem o que dizer.” Não lembro onde li essa frase, muito tempo atrás – provavelmente numa resenha ou quem sabe em duas ou três, pois a verdade é que se trata de um semiclichê crítico. Junto com seu autor ou autores, minha memória deixou de registrar também o alvo ou os alvos da diatribe. Foi a frase em si que passou a me assombrar de tempos em tempos em meus primeiros anos de escritor ta...

Desculpe, mas vou falar de futebol

Será que já eu já posso voltar a falar de futebol? A pergunta é dirigida a mim mesmo, e a resposta acaba sendo – obviamente, ou você não estaria lendo este texto – sim, mas um sim relutante. Falar de futebol foi o que mais fiz nos últimos dez meses, desde que lancei um romance chamado “O drible”. A Copa do Mundo em que o falatório culminou, e que me fez voltar com prazer maior do que eu imaginava possível aos velhos tem...

O escritor de sobrancelhas de taturana
Vida literária / 02/08/2014

No momento em que o sol se põe em Paraty, exatamente às cinco horas e trinta e nove minutos, o escritor de sobrancelhas de taturana aparece fazendo festa e pergunta se pode puxar uma cadeira. Pode, claro, sinalizo, dizendo que o café é por minha conta, mas ele explica que cortou esse hábito, a cafeína andava lhe dando tremores nas mãos. – Quer dizer, talvez a culpa nem seja dela, mas alguém tem sempre que pagar o pato, certo? ...

Ariano Suassuna e a orfandade inesperada
Vida literária / 26/07/2014

Não é fácil dar conta da sensação – que é sobretudo de um certo vazio, mas eu não estaria exagerando se acrescentasse à mistura notas de luto e desamparo – provocada pela morte de Ariano Suassuna (1927-2014). Não que minha impressão tenha algo de original: é a mesma externada por muita gente em todo o país neste funesto mês de julho que já havia levado João Ubaldo, e principalmente por quem teve algum contato pessoal ...

Viva João Ubaldo Ribeiro (1941-2014)
Vida literária / 18/07/2014

Contudo, o escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, que morreu esta madrugada no Rio de Janeiro, de embolia pulmonar, aos 73 anos, deixa uma obra-prima incontornável da literatura-brasileira: o romance “Viva o povo brasileiro”, tijolo de 673 páginas lançado em 1984. Eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1993 e vencedor do Prêmio Camões em 2008, Ubaldo era “imortal” apenas no título honorífico. Seu principal romance ...

Notícia da atual literatura brasileira: instinto de internacionalidade (II)

Falávamos das respostas que a literatura brasileira ensaiou ao longo da história para a velha charada de produzir arte relevante num país situado na periferia econômica e cultural do mundo. Como já deixei sugerido, acredito que o novo livro de João Paulo Cuenca, “O único final feliz para uma história de amor é um acidente”, possa trazer um ou dois elementos novos para a conversa. Um deles é o de, roubando novamente a ideia...

Notícia da atual literatura brasileira: instinto de internacionalidade

Quem examina a atual literatura brasileira reconhece-lhe logo, como primeiro traço, certo instinto de internacionalidade. A frase que você acaba de ler é uma cópia quase perfeita daquela que abre o mais famoso texto crítico de Machado de Assis, chamado “Notícia da atual literatura brasileira: instinto de nacionalidade”, de 1873. A troca da nacionalidade pela internacionalidade não tem uma intenção rasa de paródia: com sort...

As lições da senhora Ros, ‘a pior escritora do mundo’

É possível que a romancista e poeta Amanda McKittrick Ros (foto), uma professora nascida em 1860 na Irlanda do Norte, não tenha sido a pior escritora do mundo. Com certeza foi a escritora ruim que mais sucesso fez justamente pela ruindade de sua literatura. Esbarro em sua história fascinante no ebook Epic fail (Fracasso épico), de Mark O’Connell, que teve um trecho (em inglês) reproduzido há poucos dias na revista eletrônica S...