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Que cena! A xícara de café de ‘Dom Casmurro’

Lanço hoje uma nova seção no Todoprosa, chamada “Que cena!”. Durante alguns anos, os “Começos inesquecíveis” – posts em que eu apresentava trechos iniciais marcantes de grandes romances, acompanhados de breves comentários que davam pistas sobre o porquê de sua permanência – foram os mais visitados e linkados do blog. O sucesso, imagino, teve tanto a ver com a qualidade dos começos em si quanto com a sede de informa...

Concentração dividirá o mundo entre senhores e escravos

Até o fim da Copa do Mundo, que estou cobrindo para VEJA, o blog traz uma seleção de posts de outras jornadas. O artigo abaixo foi publicado em 29/6/2011. . Antes do tsunami digital, o poder pertencia aos detentores da informação. Agora, com a informação mais desvalorizada que cruzados e cruzeiros nos anos Sarney e Collor, a moeda em alta será cada vez mais a capacidade de concentração – aquela exigida por exemplo de quem me...

A internet é uma máquina de fazer idiotas?

De hoje até o fim da Copa do Mundo, que cobrirei para VEJA, o Todoprosa trará uma seleção de colunas de outras jornadas. As duas abaixo foram publicadas em 9 e 11 de janeiro de 2012. . “A geração superficial – O que a internet está fazendo com os nossos cérebros” (Agir, 384 páginas) é o livro que consolidou a posição do jornalista americano Nicholas Carr como principal crítico cultural do mundo digital. O livro nasceu...

Pelé pilotava o carro de James Bond

Escrevi o artigo abaixo por encomenda da revista literária colombiana “Arcadia”. Com tradução de Camila Moraes, ele saiu no número que está nas bancas como parte de uma série de textos assinados por dez escritores, cada um de um país que disputará a Copa do Mundo: Argentina, Brasil, Colômbia, Espanha, França, Inglaterra, Itália, México, Portugal e Uruguai, em ordem alfabética na edição. A ideia era que cada um...

Dizer que escrever contos é mais ‘difícil’ é paternalismo
Vida literária / 24/05/2014

Você já encontrou a afirmação por aí: “É mais difícil escrever um conto do que um romance”. É possível até que a tenha encontrado tantas vezes que já a considere uma daquelas profundas verdades contraintuitivas da existência. Algo como o equivalente literário de “o café da manhã é a principal refeição do dia”, falso axioma que também costuma ser repetido sem que se leve em conta a motivação do publicitário ...

Por que o futebol é pouco presente na literatura brasileira?

A proximidade da Copa do Mundo e o fato de que publiquei um romance chamado “O drible” conspiram para tornar a pergunta acima a que mais ouço há meses. Tenho dado respostas múltiplas, como acredito ser uma exigência da questão, que não é simples. Este texto é uma tentativa – provavelmente condenada ao fracasso, mas fracassos também podem ser interessantes – de chegar a uma síntese que o bate-pronto das entrevis...

Tradução, achados e perdidos
Vida literária / 03/05/2014

Vida de escriba, capítulo 345. Alguns anos atrás recebi de uma grande editora uma tarefa peculiar, que acabou se revelando tão desafiadora quanto divertida. Eles tinham um abacaxi na mão e queriam que eu o descascasse: haviam comprado de uma casa estrangeira os direitos de publicar em nosso país a autobiografia de um brasileiro (que vai ficar sem nome: além de sua identidade não ser fundamental para o que quero contar, o anonimat...

Gêneros? Sim, mas com generosidade
Pelo mundo / 26/04/2014

Se escrevesse hoje, Jane Austen, autora de clássicos do romance inglês como “Orgulho e preconceito”, talvez fosse catalogada como uma autora cômica, isso se não fosse parar na prateleira de “romance romântico” ou, quem sabe, de chick lit. Esse é o argumento defendido pela escritora Elizabeth Edmondson em artigo publicado no “Guardian” (em inglês, aqui), sob o título “Ficção literária é só marketing esperto”,...

Gabo (1927-2014): o legado complexo de um gênio
Pelo mundo / 17/04/2014

A reputação literária do colombiano Gabriel García Márquez, que morreu hoje na Cidade do México, aos 87 anos, está estabelecida faz tempo. Sua cotação na Bolsa de Valores Literários deverá sofrer oscilações no futuro, como a de qualquer escritor que não seja simplesmente esquecido, mas poucas vozes devem se dar ao trabalho de lamentar, por exemplo, seu “folclorismo e exotismo realmente desnecessários” como fez o exila...

Da arte de procurar no lugar errado

Nas entrevistas que tenho dado sobre “O drible”, meu romance mais recente, é comum que me perguntem – em geral de modo positivo, com admiração – sobre como cheguei à tese de que o estilo brasileiro de jogar futebol só se tornou o que é devido à ajuda involuntária dos velhos narradores de rádio, que com sua mania de embelezar exageradamente os jogos, fazendo “qualquer pelada chinfrim disputada em câmera lenta por pere...

‘O professor’: ensaio sobre a queda
Resenha / 05/04/2014

Ninguém pode acusar Cristovão Tezza de cair nas armadilhas populistas do sucesso. Com o romance autobiográfico “O filho eterno”, de 2007, o escritor paranaense nascido em Santa Catarina – até então considerado um nome “difícil”, do tipo que a crítica elogia e a grande massa leitora evita – explodiu. Relato sensível mas inclemente das agruras de um pai para aceitar seu filho com síndrome de Down, o livro pulo...

Respostas grosseiras para perguntas idiotas
Vida literária / 29/03/2014

Eu nunca tinha ouvido falar de Chuck Wendig (foto). Fui parar em seu blog, Terrible Minds, atraído pela chamada de um post que cruzou meu caminho no Twitter: Stupid answers to common writing questions, “Respostas grosseiras para perguntas literárias comuns”. Bom, encontrei lá o que o título anunciava e um pouco mais. Descobri que Wendig, escritor americano de fantasia com uma carreira sólida como romancista, roteirista e design...

O que Machado viu primeiro
Antologia / 22/03/2014

Em 1881, Machado de Assis publicou na “Gazeta de Notícias” um conto extraordinário chamado Teoria do medalhão, que republicou um ano depois no livro “Papéis avulsos”. Trata-se de um diálogo puro, isto é, sem interferência do narrador, em que um pai zeloso, terminado o jantar em que se comemorou o vigésimo primeiro aniversário de seu filho Janjão, puxa-o de lado para lhe dar conselhos. O plano do sujeito é transformar ...

ATÉ BREVE!
Posts / 01/03/2014

O colunista está de férias. O Todoprosa volta a ser atualizado no dia 22 de março. Até lá....

‘Limonov’: quando o romance não cabe na ficção
Resenha / 22/02/2014

O que é um personagem? Vamos aproveitar o espírito questionador para ir mais longe: o que é um romance? O leitor não precisa formular para si mesmo essas perguntas cabeçudas enquanto atravessa “Limonov”, do francês Emmanuel Carrère (Alfaguara, tradução de André Telles, 344 páginas, R$ 44,90). Dificilmente terá tempo para isso, aliás: o premiado livro que romanceia a biografia do escritor, aventureiro e político russo E...

Amanhã eu escrevo: da arte de procrastinar
Vida literária / 15/02/2014

“Por que escritores são os maiores procrastinadores” é o título de um artigo da revista The Atlantic (aqui, em inglês) em que a autora, Megan McArdle, não prova o que diz. Permanece uma questão aberta se os profissionais da palavra escrita são realmente mais afeitos a adiar o trabalho – e depois adiar mais um pouco, e ainda outro tanto e mais outro – do que os representantes de outras categorias profissionais. Superlativo...

Tempos e pessoas: viagem ao coração da literatura
Vida literária / 01/02/2014

Um dos conselhos literários mais importantes que já recebi – quase tão importante quanto aquele outro, o de desconfiar de todos os conselhos literários – me apareceu quando eu tinha vinte e tantos anos, lendo um artigo de Autran Dourado (citado aqui outro dia) sobre seu método de trabalho. Se a memória não me engana mais do que o habitual, o escritor mineiro revelava, embora não com essas palavras, uma forma de dar vida nova...