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Escrever e coçar é só começar?
Vida literária / 25/01/2014

Durante muito tempo, mantive neste blog uma seção chamada Começos Inesquecíveis, dedicada a aberturas especialmente brilhantes – sobretudo de romances, embora um ou outro conto tenha comparecido também. (Um desses começos, aliás, faz coro com as palavras iniciais deste post: “Durante muito tempo, costumava deitar-me cedo”, escreveu Marcel Proust na primeira linha de “No caminho de Swann”.) A seção não tinha dia fixo,...

Em defesa do lugar-comum
Vida literária / 18/01/2014

Uma vez que este blog vem reincidindo nos últimos tempos – de forma não planejada e até meio misteriosa para mim, mas indiscutível – na discussão de aspectos técnicos do ofício de escrever, como se fosse uma espécie de oficina online, talvez não seja descabido supor que um texto se encaixe no outro para formar algum tipo de conjunto coerente. Ainda que possa ser cedo para dizer que tipo de conjunto e coerência. Para deixar...

Deus e o diabo na terra do ‘só’
Vida literária / 11/01/2014

Então é só isso? Umas poucas palavras bem colocadas e pronto, ali está o leitor na ponta da linha, anzol cravado na bochecha? Sim, mas também pode ser só isso: uma única palavra em falso e o peixe desaparece nas profundezas para nunca mais passar perto do seu bote. O que vai ser? Em qualquer praia estética, esteja ele muito ou nada interessado em ser acessível a um grande número de leitores, acredito que esta preocupação hab...

A eloquência do silêncio
Vida literária / 04/01/2014

A importância do silêncio numa narrativa de ficção se manifesta de diversas formas, incluindo as óbvias elipses e subentendidos, pois, como disse Erico Verissimo (que cito de memória), “um dos segredos do romancista é nunca explicar demais”. Tudo aquilo que não é dito oferece à imaginação do leitor – coautor pouco comentado de qualquer obra literária – espaço para se espraiar, ligar os pontinhos, produzir e não ap...

Retrospectiva: os posts mais lidos de 2013
Antologia / 28/12/2013

Os cinco posts abaixo foram os campeões de audiência do Todoprosa este ano. Boas festas e até 2014! Atenção, letrados do Brasil: está lá fora um Coelho Do ponto de vista da sociologia da cultura, a universidade brasileira está mesmo em dívida com Paulo Coelho. No entanto, antes de saldá-la será preciso erradicar o ufanismo que transparece numa afirmação falsa como a de que “o escritor mais lido no mundo é o brasileiro Pa...

Votos de lombada
Vida literária / 21/12/2013

O cartão de fim de ano do Todoprosa aos seus leitores é composto, acredito que apropriadamente, de lombadas de livros, uma brincadeira que vem fazendo a alegria de muitos bibliófilos mundo afora com o nome de spine poetry, “poesia de lombada”. A mensagem acabou saindo meio sombria, lamento, mas não houve nada que eu pudesse fazer: culpa das minhas estantes ou da própria literatura? Acredito que mesmo assim haja uma rede...

O inseto de Kafka era barata ou besouro?
Vida literária / 14/12/2013

A única resposta consistente para a dúvida enunciada no título acima, uma das mais resistentes de toda a literatura do século XX (e atualizada de forma fortuita por um imenso blatídeo que apareceu há pouco no banheiro), é que não sabemos. O texto de “A metamorfose”, de Franz Kafka, simplesmente não nos fornece elementos suficientes para dizer. Foi mesmo uma barata, no entanto, o bicho que pousou no imaginário da maior part...

Não deixe de ler ‘O negro no futebol brasileiro’
Futebol & literatura , Resenha / 07/12/2013

Aproveito a semana do sorteio dos grupos da Copa do Mundo para pagar uma dívida. Nas entrevistas de lançamento de meu romance “O drible” (Companhia das Letras), tenho cavado oportunidades para recomendar a leitura de “O negro no futebol brasileiro”, de Mario Filho (Mauad, 2003, 344 páginas, R$ 64,90). Trata-se de nosso mais importante título sobre o tema e, mais do que isso, um clássico sobre a formação da sociedade brasi...

A chave do tamanho
Vida literária / 30/11/2013

“Ouviram dizer que a concisão é uma virtude e consideram conciso quem se demora em dez frases breves e não quem domina uma longa”, escreveu o argentino Jorge Luis Borges (foto), ele mesmo um mestre da concisão, cultor privilegiado da brevidade do conto. Leio isso e imagino um romance de 800 páginas em que se descreve à exaustão, por exemplo, uma única noite na vida de um personagem. As frases são todas curtas, soluçadas, m...

Como não começar um romance
Vida literária / 23/11/2013

As “franjinhas literárias” que foram tema do último post – aqueles emblemas de literariedade que nada mais são do que uma manifestação do mau e velho clichê, da linguagem morta ou pelo menos artrítica – podem ser mais ou menos antiquadas. É claro que existem as franjinhas modernosas e até as vanguardistas, pois, nas palavras de Ricardo Piglia, “a modernidade é o grande mito da literatura contemporânea”. No entanto...

Textos com franjinha
Vida literária / 16/11/2013

Num dos curtos ensaios de crítica cultural que escreveu entre 1954 e 1956, reunidos no livro “Mitologias” (Difel), o semiólogo francês Roland Barthes se detém com especial crueldade nas franjinhas exibidas por todos os personagens masculinos do filme “Júlio César”, de Joseph L. Mankiewicz, adaptação hollywoodiana da peça de William Shakespeare, com Marlon Brando (foto) no papel de Marco Antônio e James Mason no de Brut...

Literatura: quanto mais inútil, melhor
Vida literária / 09/11/2013

Depois que escrevi aqui sobre o que chamo de literatura de autoatrapalhação – aquela que se opõe à autoajuda –, a questão do enfoque utilitarista da leitura não parou de atravessar meu caminho sob as mais variadas formas. Fez isso tantas vezes que me induziu à conclusão de que o tema está boiando no ar do nosso tempo. Primeiro foi uma pergunta do mediador Rosel Soares na Festa Literária Internacional de Cachoeira (BA), há...

Piglia, Tchekhov e a arte de narrar
Vida literária / 02/11/2013

Em seu lapidar ensaio Teses sobre o conto, publicado no livro “Formas breves”, o escritor e crítico argentino Ricardo Piglia resume assim o ponto de partida de suas reflexões sobre as histórias curtas – ou, em inglês, simplesmente stories: Primeira tese: um conto sempre conta duas histórias. Numa linguagem límpida e legível que não esconde a generosa – e rara – intenção de conversar com o maior número possível de l...

O personagem só faz o que quer? Ah, conta outra!
Vida literária / 05/10/2013

A primeira referência que encontrei à autonomia dos personagens literários me impressionou muito. Era adolescente, começava a tentar pôr de pé o plano insensato de um dia escrever livros e fiquei boquiaberto ao descobrir que um escritor podia se declarar impotente diante do livre-arbítrio manifestado por criaturas que ele próprio tinha criado. Como assim – então não era o autor que mandava? A revelação constava de um dos p...

E agora, José?
Vida literária / 28/09/2013

O poeta morreu no dia 17 de agosto de 1987. Do ponto de vista de um novo século, é tentador afirmar que a própria poesia – como a literatura em geral – não demoraria a seguir seus passos. Essa afirmativa, por conter um exagero, requer explicação. Uma reportagem de capa como a que VEJA fez quando da morte de Carlos Drummond de Andrade (foto) dificilmente será reeditada com um de seus colegas de ofício quando lhe chegar a “i...

O romance cura? Da autoajuda à autoatrapalhação
Pelo mundo / 21/09/2013

Em entrevista à seção de livros do “New York Times” (aqui, em inglês), o cantor e compositor Sting se sai com uma boa tirada quando lhe perguntam se é leitor de livros de autoajuda: “Livros de autoajuda? Isso não é um oxímoro?”. Gostei dessa ideia de que livros de autoajuda podem ser, mais que um gênero besta, um gênero cujo próprio nome exprime uma contradição em termos, proposição absurda em que um elemento nega...